Notícias quanto à Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica

26/02/2015 22:09

 A Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica (LII), iniciada na UFSC em fevereiro de 2011, navega em direção à formatura de sua primeira turma, em abril de 2015. O curso é composto por acadêmicos Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xokleng, provenientes dos estados de MS, ES, RJ, SC e RS, e tem como substrato a questão territorial, os direitos territoriais. Daí seu eixo norteador denominar-se Territórios Indígenas: A questão fundiária e ambiental no Bioma Mata Atlântica.

Todos os cursos Licenciatura Intercultural Indígena no Brasil pressupõem metodologicamente a instituição da pedagogia da alternância, que viabiliza a experiência que agrega Tempo-Universidade (TU) e Tempo-Comunidade (TC). No nosso caso, o Tempo Universidade esteve constituído por períodos presencias e intensivos de formação no Campus da UFSC/Florianópolis e/ou nas escolas em Terras Indígenas ou o mais próximo delas, a depender de possibilidades e viabilidades acordadas entre turmas, comunidades indígenas e a coordenação. Foram totalizadas vinte etapas intensivas de duas a três semanas, a depender da carga horária das disciplinas no semestre. Já o Tempo Comunidade destinou-se a estudos orientados, projetos de pesquisa e de intervenção comunitária. Com carga horária menor, ocorreram entre uma etapa presencial e outra. No TC, a participação de sábios e especialistas indígenas foi um extraordinário recurso para a aprendizagem, sendo gerados trabalhos apresentados por turma/disciplinas ou no conjunto das turmas/disciplinas.

Em 2013.2 os acadêmicos optaram por terminalidades e ênfases de seu interesse: Linguagens – Línguas Indígenas; Humanidades – Direitos Indígenas e Conhecimento Ambiental – Gestão Ambiental, visando complementar a Terminalidade Infância.

Para além das 42 disciplinas ministradas e dos trabalhos tempo comunidade efetivados, o curso ofertou Atividades Acadêmico-Científico-Culturais (AACCs) que integraram a estrutura curricular do curso, totalizando 252 h/a. Propostas por estudantes, professores e coordenação ocorreram, sobretudo, durante as etapas Tempo Universidade. Envolveram uma variedade de proposições, distribuídas em diferentes modalidades. Essas atividades possuem a finalidade de ofertar enriquecimento curricular aos acadêmicos indígenas. Visam contribuir para a formação, oferecendo ambientes culturalmente ricos e diversos, voltados para o debate de temas complementares e relacionados de forma acentuada ao eixo norteador do curso. Em diferentes AACCs foi essencial a participação de sábios/especialistas indígenas.  Nossos alunos também participam do PIBID Diversidade.

Neste momento, a Coordenação sublinha ainda mais notícias:

  • Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs)

Em março de 2014 os alunos estavam definindo seus temas e orientadores. Passaram pelas disciplinas TCC I e II, nos semestres 2014.1 e 2014.2, respectivamente, encontraram-se com seus orientadores, prepararam seus projetos de pesquisa, apresentando-os em sala de aula, rebuscando sua reflexão e seguindo para as pesquisas propriamente ditas.

Os projetos de TCCs foram apresentados em julho de 2014. Os alunos abarcaram uma multiplicidade de temas diretamente relacionados com os contextos vividos nas suas comunidades e terras indígenas, a abranger: mata, fauna, flora e recursos hídricos; saúde – curadores/rezadores, autoatenção, parto, parteiras, ervas medicinais, resguardo, práticas corporais, rituais; cultura material – petyngua/cachimbo, artefatos e artesanato, instrumentos musicais etc.; práticas culturais; cosmologia e calendário solar e lunar; infância; juventude; mulheres; línguas guarani, kaingang e laklãnõ/xokleng; educação indígena; educação escolar indígena; plantação e alimentação; organização sociopolítica; Serviço de Proteção aos Índios (criado em 1910 e que antecedeu a atual Funai); Barragem Norte etc.

O regulamento de TCC do curso prevê a possibilidade do trabalho: a) se constituir como monografia, artigo, material didático, vídeo, ou ainda outra forma; b) ser bilíngue e c) ser efetivado em dupla. Para a sua elaboração os acadêmicos viabilizaram a pesquisa com mais velhos Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xokleng, com colegas, com profissionais não indígenas, valorizando conhecimentos e experiências. Utilizaram-se da pesquisa bibliográfica e documental. Vários alunos escreveram resumos na língua português-brasileira e na sua língua materna/paterna. Desbravaram caminhos, efervesceram movimentos.

Para tal empreendimento, os orientadores foram essenciais. Trabalharam em conjunto, iluminaram possibilidades, se empenharam e solidarizaram durante meses, viajaram, se despojaram.

  • Bancas de Trabalhos de Conclusão de Curso

As bancas de TCCs ocorreram de novembro de 2014 a fevereiro de 2015. De acordo com o regulamento, aos acadêmicos é permitida a opção de defesa na UFSC ou na sua comunidade/aldeia/setor/linha. Assim, as bancas ocorreram na UFSC e em sete terras indígenas, a saber: Mbiguaçu, Morro dos Cavalos, Laklãnõ e Piraí (Santa Catarina) e Inhacorá, Guarita e Serrinha (Rio Grande do Sul). Outro aspecto a sublinhar refere-se à possibilidade de pronunciamentos da plateia ao término da arguição. E, de fato, registraram-se variadas manifestações de colegas, parentes e lideranças, a consubstanciar o exercício conjunto. As bancas podem, assim, ser somadas às variadas oportunidades de aprendizado a conter reciprocidade, solidariedade e comprometimento.

A partir da recepção dos arquivos revisados, a Coordenação trabalhará para a disponibilização dos TCCs no Sistema Pergamum da Biblioteca Central da UFSC, bem como para a organização de publicações, visando retorno às escolas, às comunidades, aos pesquisados que engrandecem essa trajetória ímpar.

Vale lembrar existir empenho para a continuidade do curso na UFSC, doravante como uma graduação regular, com entrada anual, a partir de agosto de 2015, com processo seletivo específico sob responsabilidade da Coperve, como em 2010. Todavia, a efetivação somente ocorrerá com posturas firmes e determinadas de um conjunto de responsáveis que inclui a UFSC, o MEC, a Funai, as Secretarias de Estado da Educação e os parceiros essenciais. Lideranças indígenas em diversas oportunidades, o que inclui bancas de TCCs, marcaram sua posição quanto à importância da Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica quanto, inclusive, aos direitos territoriais, ao direito de saúde e educação efetivamente diferenciados, somados à autonomia e autodeterminação.

Na noite de 08 de abril de 2015 os alunos Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xokleng se formarão no Centro de Eventos da UFSC. De fato, um evento marcante para cada integrante desta valorosa caminhada nesta nossa Universidade.

 

Coordenação da LII

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